Geralmente o primeiro balão que você solta é aquele que vai marcar ou NÃO no que vai ser a sua vida em relação a arte. É aquele que vai fazer você ficar fascinado ou NÃO. É aquele que vai colorir o seu mundo ou NÃO. É aquele que vai ser o primeiro que anos mais tarde dará início de muitas aventuras, de muito convívio com amigos, de muita ansiedade por ver a arte pronta que será lançado em direção ao céu e quando o nosso pequeno balão, sim, eu digo pequeno porque todo mundo começa assim, seja um chinês, japonês ou junino de uma folha, subir ao céu, estará lá a sua marca de felicidade e alegria, tudo aquilo de bom que você deseja e que irá de encontro com os outros coloridos pontos luminosos. Aí, você sente que não está só, porque aqueles outros balões que percorrem o céu são também o mesmo símbolo de felicidade por parte de outras pessoas humanas que desejam o mesmo que nós. Geralmente é sempre assim o nosso primeiro balão, ou marca para sempre a gente ou não.
Eu tive a sorte e a felicidade, quando com meus 4 anos de idade fui morar para o bairro da Piedade no Rio de Janeiro, tradicional zona norte, um dos pontos mais frequentes no lançamento de balões. Foi justamente nesse bairro no ano de 1965, que numa noite de verão, na casa onde vivia com meus pais, meu irmão ainda recém-nascido e um primo que morava com a gente, que me apercebi que algo de estranho se passava no quintal dos fundos. De repente, comecei a ouvir uns estouros de foguetes, não muito longe dali e apercebi-me que meu primo estava quase em cima do telhado apreciando algo que me chamaria também a atenção. Apesar de ser bem criança, escutando o estouro dos foguetes, perguntei o que é que ele estava vendo. “Sobe aí nas escadas que você vê logo” disse meu primo. Fiz o que ele falou, embora com certo receio, pois apesar da curiosidade, senti um pouco de medo em saber o que iria encontrar lá no alto. Era um grande balão fogueteiro, que segundo a segundo soltava um foguete de flecha. Sinceramente, eu nunca tinha visto nada parecido e a minha primeira reação foi mesmo de medo. Vi por alguns segundos aquele espetáculo, que naquele momento foi de terror para mim. Saltei da escada de madeira com o coração nas mãos, fugindo para o meu quarto e nem quis sair mais de lá. Meu primo diante daquela cena, brincou comigo, perguntando porque fugira. Fiquei sem falar e nada respondi e o pior é que os foguetes não acabavam mais. Me lembro que essa noite não dormi direito, só pensando no que meu primo perguntou. “Então, não vai dizer que está com medo do balão?” Eu na minha inocência indagava: balão, mas qual balão! Aquilo era um balão?
Muitas noites se passaram e quando anoitecia, ficava meio desconfiado e nem sequer punha os pés no fundo do quintal e não me atrevia a olhar para o céu. Passado algum tempo, eis que surge a primeira festa junina na vila onde eu morava e quase todos os vizinhos enfeitavam os seus quintais com muitas bandeirinhas e algo colorido que me chamava a atenção do qual soube pelo vizinho do lado da minha casa que aquilo era um balão de S. João. Meus olhos brilharam diante daquele junino de papel de seda todo colorido. Lembro-me que nessa hora o meu vizinho colocou a vitrola tocando, onde ouvi pela primeira vez a marchinha “Cai, cai balão”. Nesse momento, pensei se seria um balão igual aquele que tinha visto naquela noite e apesar da incerteza continuar, uma coisa era certa: Foi naquela noite em que tudo começou que o sentimento que tinha, apesar de não saber o que era, mais tarde iria se traduzir em duas palavras que até já foi título de um livro sobre a arte. Foi simplesmente uma “Paixão Inexplicável” e uma paixão que pelo contrário nasceu muito antes de fazer ou soltar o meu primeiro balão junino. Foram os meus olhos, seguidos do meu coração que registraram aquele momento e fizeram crer que o primeiro balão da nossa vida é aquele que marca definitivamente o sentimento pela arte ou NÃO. Logo depois, bastou apenas eu ver novamente um deles pairando sobre o céu e sentir que o meu medo nada mais era que um puro encanto que marcaria a minha vida.
Hoje, agradeço a Deus e aos Santos juninos pelo “NÃO” ter ficado de fora quando a arte marca a gente. De uma “paixão inexplicável”, hoje transformada em uma “paixão eterna”.
Chico Carioca
TURMA LUSA DE LISBOA
PORTUGAL
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